Uma interessante noticia sobre o trabalho em cowork – Retirada de ionline.
Liberdade 229, pioneiro no conceito, nasceu por acaso, num prédio do século XIX, no coração da capital.
Há quem diga que é o futuro. A partilha de espaço de trabalho por profissionais que não têm qualquer tipo de vínculo uns com os outros está a ter cada vez mais adeptos em Portugal. O i falou com alguns dos fundadores destes espaços e chegou à conclusão que todos partem do mesmo princípio, mas cada um tem a sua particularidade, cabendo ao profissional que os procura escolher o que mais se adapta às suas necessidades.
O primeiro espaço de cowork que abriu formalmente em Portugal foi o Liberdade 229, em 2009, mas o Ávila Business Center já tinha feito uma tentativa falhada, no ano anterior, altura em que, segundo o seu CEO, Carlos Gonçalves, “o mercado ainda não estava preparado para este conceito”. A experiência foi, contudo, retomada, em 2012 e “neste momento o balanço é muito positivo”, ressalvou. “Os nossos coworkers valorizam o produto diferenciador que temos para lhes oferecer e que não encontram muitas vezes nos espaços de coworking ditos ‘tradicionais’: ambiente de trabalho corporativo, salas de reuniões equipadas com tecnologias de ponta, apoio de secretariado e um atendimento telefónico profissional e institucional. Ou seja, não se limitam a utilizar uma mesa e uma secretária. Têm muito mais do que isso”, enfatizou a mesma fonte, acrescentando que a adesão ao Ávila tem sido “excepcional”. Neste momento, ronda os 90%.
O conceito do Ávila Business Center foca-se num ambiente mais corporativo, destinado a empresas e profissionais independentes que valorizam um apoio de secretariado, localização central (Av. da República, em Lisboa), atendimento telefónico mais profissional e salas de reuniões. Segundo Carlos Gonçalves, este modelo é perfeito para pessoas que “procuram trabalhar de forma inteligente, com custos controlados e valorizam o networking, como forma de desenvolver e reforçar parcerias que, num espaço de trabalho convencional, teriam mais dificuldade em concretizar”. É o caso da MovePoint, empresa sediada no Algarve, que optou pelo Ávila pelas facilidades logísticas já mencionadas por Carlos Gonçalves, e porque “assim – num ambiente de trabalho – os colaboradores se sentem mais apoiados e acabam por ser mais produtivos”, afirmou a CEO desta empresa, Diana Ferro. “A opção pelo Ávila foi principalmente o ambiente agradável e o espaço lounge que dispõe, a localização, garagem e a simpatia”, sublinhou esta profissional que visitou mais quatro espaços antes de fazer a sua escolha.
Também o work’in Marquês considerou difícil iniciar este conceito em Portugal, mas hoje, dois anos depois, já tem três andares em funcionamento, e um quarto em obras para abrir.
Gonçalo Gaspar trouxe a ideia de Paris, não porque já trabalhasse num espaço destes, mas porque trabalhava num open space onde inúmeros profissionais de áreas distintas trabalhavam lado a lado. “A experiência de fazer parte da AREP (agência multidisciplinar dos comboios franceses) foi extraordinária. Fiquei com vontade de criar algo semelhante, mas desta vez para pessoas que trabalhassem em casa”, explicou Gonçalo. O que é certo é que no final de 2012 o work’in Marquês estava com 40% de ocupação e no final de 2013 com 100%. Para o seu fundador a grande vantagem deste modelo é o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “Quando uma pessoa trabalha em casa, muitos erros são cometidos. Acaba por não se vestir, por não fazer as refeições principais, distrair-se com a televisão, com os filhos, com a própria arrumação da casa. O coworking ajuda a criar horários, a conhecer novas pessoas, a partilhar experiências e ideias”. Aderiram a este espaço pessoas independentes e empreendedoras que trabalham sozinhos, em casa ou que estejam em viagem por Lisboa e que precisem de trabalhar, nem que seja por umas horas. Não é por isso de estranhar que os preços no work’in Marquês vão dos 12,30 aos 159,90 euros, onde vem incluído a internet, electricidade, água, copa e limpeza. O ponto diferenciador deste espaço foca-se no facto de, para além do coworking, ter salas de escritório – direccionadas a micro empresas – e salas de reunião.
Também no coração de Lisboa, o Liberdade 229, surgiu de uma oportunidade circunstancial. Em 2001, aos 17 anos, Leonardo Xavier começou por criar a Quodis, uma pequena empresa especializada na produção web, que oito anos mais tarde tinha muito espaço subaproveitado. “Em 2009 éramos uma equipa de 6 pessoas, a trabalhar numa sala de um T8 (fomos lá parar por força de circunstâncias). Foi aí que tivemos de escolher sair do espaço ou assumir a renda de todo o andar”, explicou Leonardo, como forma de justificar a necessidade de aproveitar o espaço, criando uma pequena comunidade de trabalhadores independentes e de pequenas empresas, “onde se gerou um ambiente de trabalho animado e enriquecedor, profissional e socialmente.” A procura deste espaço pioneiro tem sido constante ao longo dos últimos quatro anos e meio e actualmente já tem mais freelancers que pequenas empresas, “até porque boa parte dos aderentes trabalham para clientes fora de Portugal ou na indústria digital, pelo que estão menos expostos a flutuações da economia nacional”, esclareceu Leonardo.
O Liberdade 229 é relativamente pequeno, com capacidade máxima para 30 coworkers, distribuídos por vários sub-espaços pequenos. Nas palavras do fundador “é um espaço calmo, confortável e visualmente estimulante num prédio do século XIX, em plena Avenida da Liberdade”.
Por sua vez, o Coworklisboa é o espaço de maior dimensão que aderiu a este conceito. Distribuído entre o LX Factory e a Central Station, no Cais do Sodré, ao contrário do Ávila e do work’in Marquês, não sentiu grande dificuldade inicial. O espaço do LX Factory nasceu primeiro: em 2010. Já o Central Station existe desde Setembro passado. Quando há quase quatro anos Fernando Mendes e Ana Dias pensaram em criar este modelo de trabalho no primeiro local, numa semana, já tinha as vinte adesões necessárias para pagar a renda – e a maior parte ainda se mantém por lá. Só no LX Factory há mais de 80 postos de trabalho, distribuídos por mesas fixas e flexíveis, sem falar naqueles que não subscreveram nenhuma mesa, e optaram pelo plano nómada. “Com este plano trabalha-se, por exemplo, nos sofás, ao balcão ou em pé. Desde que tenham um portátil, por menos de 50 euros por mês podem trabalhar onde quiserem”, explicou Fernando Mendes. O responsável fez questão de salientar que o que faz “é o que se faz um pouco por toda a Europa e por todo o mundo, que é a ideia de um espaço de trabalho partilhado com muito pouca ponte com o virtual. “Estes espaços surgiram por reacção a uma certa virtualização do trabalho, mas também por causa dela, uma vez que só é possível sair de casa e vir para um espaço e partilhá–lo com outros, porque hoje há redes sem fios, há a mobilidade das máquinas. Aquilo que a maioria das pessoas faz, pode ser feito em qualquer sítio”, sublinhou.
Fazendo questão de dizer que cowork é o futuro, Fernando Mendes chama a atenção para a importância do perfil vencedor dos profissionais. “Os nossos clientes típicos são resilientes. São na maioria freelancers, habituados a batalhar. O que Coworklisboa oferece é aquilo a que Fernando Mendes chama de “comunidade”(…) “Que é uma rede de pessoas que trabalham umas ao pé das outras, que almoçam juntas, que se conhecem bem, que se contratam umas às outras e que tiram partido do conhecimento umas das outras”, explicou.
O responsável sublinhou ainda que no Coworklisboa as pessoas são convidadas a misturarem-se. “Não obrigo ninguém a vir nem a pagar, se não tiver possibilidade de o fazer”. Por ter, segundo as suas palavras, “uma vertente social muito vincada”, Fernando Mendes – que está ligado à fundação da revista “Cais” e do Banco Alimentar – afirmou que criou este espaço não a pensar no lucro, mas em ajudar os outros. Não o considero um negócio, até porque este apenas se auto-sustenta. “(…) Também já aconteceu alguém não poder pagar um mês. O que faço é apoiar activamente essa pessoa, recorrendo à minha rede de contactos”.
Foi também a pensar em solidariedade que criou um programa para indivíduos com menos de 25 anos e mais de 60. “Este é um programa de apoio ao emprego. Foi assim que o lancei e é assim que quero que seja visto”, esclareceu, justificando o acesso gratuito a este grupo etário. “Quero que percebam que não é a partir de casa que lhes vai surgir seja o que for. Se estiverem aqui, conseguem”, sublinhou. No caso dos jovens é também uma oportunidade para iniciarem a sua vida profissional. “Assim, numa entrevista de emprego, já podem dizer que têm experiência”, enfatizou.
O fundador deste espaço chamou ainda a atenção para os estrangeiros que aderiram ao Coworklisboa. Neste momento são 15%. “Portugal é um óptimo país para se viver. E muitos estrangeiros, apesar de ainda trabalharem para o seu país, vêm para cá”.
Mesmo reconhecendo a importância da publicidade e do marketing, os vários entrevistados garantiram que o poder do boca-a-boca teve muito mais eficácia na divulgação dos seus espaços.